Olho para o quadrado de letras soltas e embaralhadas. O objetivo é encontrar as palavras listadas acima! Um exercício simplório que por maior parte da vida julgava-me veloz e esperta sua resolução. Exercício feito, porém, sem a companhia dos demais... Eis que um dia arrisquei fazer ao lado de alguém e percebi a minha lerdeza bastante significativa em comparação com os outros. Posteriormente percebi também que eu tinha uma certa facilidade de encontrar as palavras que eram organizadas de trás para frente no quadro de letras, ou seja, aquelas que vinham da direita para a esquerda, ou baixo para cima, ou da direita inferior para a esquerda superior.
Minha recente descoberta quanto a minha lerdeza me deixou muito surpresa. Nesse mundo onde velocidade e desempenho são a garantia do ouro em toda e qualquer situação de resolução de problema que automaticamente, competição, logo de cara me identifiquei como a tal 'looser' e passei a simplesmente sair do foco. Se não fosse vista, talvez não competiriam comigo, e eu poderia ser 'looser', mas ser no meu tempo; Talvez a vida fosse mais fácil desta maneira.
Nunca mais consegui me convencer porém da minha velocidade, nem do desempenho. Passei, ao contrário, a desconfiar de todo aparente bom desempenho, como se cada vez que eu me sentisse bem por ter concretizado algo, aquilo automaticamente perdia valor, pois certamente não tivera sido suficientemente bom como pensado ou sentido inicialmente.
Passei um bom tempo neste lugar escondido, desviando de qualquer foco de luz que buscasse me mostrar, pois junto a mim mostraria a 'lerdeza' mostraria as minhas palavras erradas, mostraria a minha memória falha.
Com o tempo comecei a perceber quantas outras pessoas mantinham a mesma postura por motivos similares ou, as vezes, até por motivos que eu julgava, em rompantes de egocentrismo, que se comigo não seriam tão grandiosos. Percebi também que havia aqueles que tinham as mesmas questões que eu, e que muitos outros. Questões, porém, que não os impediam do que quer que fosse. Essas pessoas se expunham e a maioria das vezes conseguiam maquiar essas suas dificuldades. Elas maquiavam bem, simplesmente dando mais foco aquilo que não lhes era falho.
Eis que me questionei "Por que motivo não faço eu o mesmo?"
Como eu queria fazer o mesmo, e de certa maneira ainda quero. Mas porque devo eu ceder ao mundo, quando o mundo me parece todo errado? Por que teria eu que me apresentar sem falhas, quando todos ao redor falham tanto quanto eu em diferentes aspectos? Se todos falham, devo então ter algum ponto forte, assim como todos têm. E quais seriam eles?
Voltei para as palavras cruzadas. Sentei peguei o lápis e fui fazendo... Após alguns minutos me atentei para algo muito interessante: Eu organizava a busca por cada palavra individualmente, repetia um padrão tático de busca de palavra que me permitia achar as palavras mesmo quando elas estavam numa organização contrária ao padrão encontrado na nossa língua (cima-baixo, esquerda-direita). Mas esse padrão se dava depois de algumas palavras já encontradas, essas palavras eram achadas num jogar de olhos pelo quadro, que me fazia perceber a repetição de certas letras uma ao lado da outra, e que geralmente era uma dica de que ali havia alguma palavra, ou seja, se fazia de maneira muito mais intuitiva.
Conclui que aprendera tais sistematizações que me permitiam solucionar o tal problema somente por que tinha a tal dificuldade com todas aquelas letrinhas embaralhadas a minha frente, no meu caso a intuição era pouco, a dificuldade se fazia impedimento. Penso que muitas pessoas sistematizem também a maneira de buscar pelas letras no quadro mesmo sem ter a tal dificuldade. Porém a questão aqui não era mais ter uma vantagem ou habilidade única, era sim perceber que mesmo na dificuldade as habilidades surgem, e algumas vezes podem até se destacar.
Comparação inevitável me veio a tona: A minha vida pode ser como esse quadro de letras! O problemas é que até então eu tenho vivido apenas como nos primeiros minutos que busco por palavras olhando o quadro num todo e percebendo dicas que me levam a achar algumas palavras. Nesse esquema tenho sido lenta, e portanto, a única coisa que tenho visto tem sido o meu baixo rendimento na vida.
Me sinto sedenta por riscar as palavras listadas acima, me sinto sedenta por realizar muito mais, mas continuo aqui procurando as grandes realizações por meio do meu famoso 'deixa a vida me levar' que acaba deixando minhas cegueiras com muito mais força sobre mim.
Logo, a solução me parece simples: Devo aprender a buscar o que eu quero com organização e determinação. Sei que acharei uma maneira. Não sei o porque insisto em tentar encontrar meios mais tranquilos, quando todas as palavras que eu podia encontrar já foram encontradas. As palavras que faltam para eu acabar está página e ir para a próxima são justamente aquelas que estão no oposto do óbvio e que não encontrarei caso não me melhore na busca por elas!
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