Me apaixonei por uma ilusão!
Na minha adolescência, ao finalmente me apaixonar por uma mulher vivi uma felicidade indescritível por compreender que eu não era incapaz de amar, apenas estava tentando encontrar amor no lugar errado, no caso, nos garotos que convivia.
Vivi uma grande libertação da realidade que a muito me assombrava, não compartilhar com minhas amigas a mesma empolgação e nunca ter sentido nada além de um certo carinho pelos garotos que eu tentava me relacionar.
Bom, acontecida a descoberta acreditei que tudo ficaria mais calmo. Claro eu teria que lidar com preconceito contra as relações homoafetivas e tudo mais, mas se existisse amor, seria genuíno e venceria qualquer perrengue.
Primeira grande fantasia foi acreditar que amor era algo que simplesmente existia. Eu nunca tinha prestado atenção no fato de que amor da um trabalho do louco pra se manter, porque na verdade até aquele ponto tudo que eu conhecia era paixão.
A minha ideia de amor era absolutamente trovadoresca, "ame o impossível, conquiste o amor daquele que nunca te entregará o amor totalmente , pois assim você estará sempre na busca por amor e sempre ganhará o amor, pois na hora que parar de buscar o amor, simplesmente não o terá". E este amor na verdade era paixão.
E o objeto dessa minha paixão era o que? O que era esse objeto de paixão sociedade??
Era a porra do Feminino!!!
Só que depois de desconstruir esse padrão comportamental trovadoresco, que fazia da minha vida afetiva romântica uma novela, e passar a viver uma relação muito mais feliz e satisfatória, me deparei com esse feminino pendurado no centro da minha fantasia romântica insistindo e resistindo a toda mudança e desconstrução que venho fazendo nos últimos anos.
A esse ponto da minha vida tenho uma desconfiança muito forte de que na verdade o masculino e o feminino são majoritariamente performances que as pessoas escolhem executar. Algumas pessoas até gostam de algumas das atividades pautadas nessas personagens de homem ou de mulher e passam a se identificar tanto com suas performances que seriam capazes de morrer em nome dela, porque de fato elas passam a ser suas performances.
Eis a ironia da minha vida, eu que sempre acreditei me apaixonar por pessoas que tinham em comum certa autenticidade e sinceridade, descobri que com o feminino ocupando o centro da minha fantasia amorosa, eu me apaixonei por uma ilusão, pois o feminino não existe, ele é apenas uma performance.
Agora que esta descoberta esta feita eu vivo mais um vazio. Um vazio inédito em minha vida! Um vazio angustiante e em alguma medida amedrontador.
Muitas perguntas me assolam:
Este vazio precisa ser preenchido?
Como preencher algo tão central?
Existe um eros pulsante para além das fantasias?
O que é possível?
Será que de fato vivi essa desconstrução ou eu estou forçando ela a acontecer por alguma razão que ainda desconheço?
Caralho! Essa vida é Foda!
Cheguei a construir títulos que fizessem caber o discurso de mim, e agora chego ao ponto de necessitar livrar-me deles, transpor-los, transcendê-los.
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Desfemininando o inmasculinismo, ao desmasculinizar o infemininismo
Nunca me identifiquei totalmente com o que me foi apresentado como feminino. Aos poucos fui me descolando do que era exigido de mim para representar esse tal feminino, e fui me identificando cada pouco mais com o tal do masculino, afinal nada me foi dado entre um e outro e se não me encaixava tanto em um só podia me encaixar noutro.
Neste limbo, que eu não admitia estar construía a forte ilusão de traços de transexualidade. Por tempos trouxe no peito densidade contida da dúvida sobre minha identidade de gênero, sem partilhá-la com ninguém, por acreditar que como ainda era dúvida tudo que fariam os outros seria julgar-me sem noção, desvalorizar minha angustia e tornar-me ainda mais confusa.
A poucos resolvi compartilhar com minha companheira e foi uma reviravolta em nossas vidas subjetivas. Mas muito diferente do meu julgamento inicial, ela me apoiou na minha duvida e me deixou navegar por alguns extremos da identificação com o masculino me dando espaço para perceber que eu também não me identifico com ... isso.
Engraçado que ao ler esse escrito pode se parecer de uma pessoa que nunca se apropriou dos estudos que discursam sobre a verdade profunda de que o feminino e o masculino foram meras invenções sociais , como tantas outras, usadas para controlar a sociedade e etc etc etc... E o engraçado é que eu não li tanta coisa assim mesmo não, porque existe coisa de mais escrita pelo mundo, mas li bastante, afinal eu queria mesmo entender, na esperança de que entendendo essas construções históricas, sociais, politicas, psicológicas e tudo mais, eu poderia sentir paz de ser quem sou, ou ao menos saber quem sou, finalmente e poder atuar no mundo.
Parentese - Porque sim, eu sinto que de alguma maneira eu espero saber quem sou para poder atuar no mundo de fato, o que é uma completa burrice emocional, uma vez que milhões de pessoas fazem barbaridades por ai e também brilhanticidades sem terem a menor ideia de quem são e sem se preocuparem inclusive de fingirem ser o que não são para terem seus objetivos atingidos. - Parentense
Bom, parenteses a parte, eu queria mesmo dizer no parágrafo anterior não-parentesal, que eu estudei bastante sobre o fato na tentativa de sanar uma angustia, e compreendi e concordo plenamente que feminino e masculino são construções da humanidade e deveriam ser transformados, mais ambicionamente quem sabe até superados.
Maaaas!!! Eis a questão que eu acredito compor a principal base da hipocrisia no ser humano: Acreditar, defender, concordar, e até mesmo elaborar uma tese não é igual viver, ser.
Eu acreditava e defendia, mas dentro de mim aquelas regras binárias todas faziam ecos tão fortes ao ponto de muitas vezes me deixarem desnorteada.
Na verdade eu ainda vivo a desconstrução desses. Como é fácil falar e como é dificil de fato realizar as mudanças internas que realmente sustentam as desconstruções racionais.
Uma vez ouvi a frase que a razão emburrece o homem. E como emburrece! Porquê levada muito a sério nos faz surda ao nosso próprio emocional, nos leva pra tão longe do que sentimos que passamos a usar da própria racionalidade para defender ou justificar nossa hipocrisia, e muitas vezes disfarçando e aprisionando cada vez mais nossos sentimentos para que ninguém perceba o quão hipócrita de fato somos.
Eu gostaria de convidar ao mundo a se religar com seus sentimentos e temer menos suas próprias contradições. Mas como o único mundo que alcanço é o meu, me contentarei com a continuidade deste meu desafiador exercício de desmascarar a mim mesma e assim ir desfazendo minhas amarras.
Neste limbo, que eu não admitia estar construía a forte ilusão de traços de transexualidade. Por tempos trouxe no peito densidade contida da dúvida sobre minha identidade de gênero, sem partilhá-la com ninguém, por acreditar que como ainda era dúvida tudo que fariam os outros seria julgar-me sem noção, desvalorizar minha angustia e tornar-me ainda mais confusa.
A poucos resolvi compartilhar com minha companheira e foi uma reviravolta em nossas vidas subjetivas. Mas muito diferente do meu julgamento inicial, ela me apoiou na minha duvida e me deixou navegar por alguns extremos da identificação com o masculino me dando espaço para perceber que eu também não me identifico com ... isso.
Engraçado que ao ler esse escrito pode se parecer de uma pessoa que nunca se apropriou dos estudos que discursam sobre a verdade profunda de que o feminino e o masculino foram meras invenções sociais , como tantas outras, usadas para controlar a sociedade e etc etc etc... E o engraçado é que eu não li tanta coisa assim mesmo não, porque existe coisa de mais escrita pelo mundo, mas li bastante, afinal eu queria mesmo entender, na esperança de que entendendo essas construções históricas, sociais, politicas, psicológicas e tudo mais, eu poderia sentir paz de ser quem sou, ou ao menos saber quem sou, finalmente e poder atuar no mundo.
Parentese - Porque sim, eu sinto que de alguma maneira eu espero saber quem sou para poder atuar no mundo de fato, o que é uma completa burrice emocional, uma vez que milhões de pessoas fazem barbaridades por ai e também brilhanticidades sem terem a menor ideia de quem são e sem se preocuparem inclusive de fingirem ser o que não são para terem seus objetivos atingidos. - Parentense
Bom, parenteses a parte, eu queria mesmo dizer no parágrafo anterior não-parentesal, que eu estudei bastante sobre o fato na tentativa de sanar uma angustia, e compreendi e concordo plenamente que feminino e masculino são construções da humanidade e deveriam ser transformados, mais ambicionamente quem sabe até superados.
Maaaas!!! Eis a questão que eu acredito compor a principal base da hipocrisia no ser humano: Acreditar, defender, concordar, e até mesmo elaborar uma tese não é igual viver, ser.
Eu acreditava e defendia, mas dentro de mim aquelas regras binárias todas faziam ecos tão fortes ao ponto de muitas vezes me deixarem desnorteada.
Na verdade eu ainda vivo a desconstrução desses. Como é fácil falar e como é dificil de fato realizar as mudanças internas que realmente sustentam as desconstruções racionais.
Uma vez ouvi a frase que a razão emburrece o homem. E como emburrece! Porquê levada muito a sério nos faz surda ao nosso próprio emocional, nos leva pra tão longe do que sentimos que passamos a usar da própria racionalidade para defender ou justificar nossa hipocrisia, e muitas vezes disfarçando e aprisionando cada vez mais nossos sentimentos para que ninguém perceba o quão hipócrita de fato somos.
Eu gostaria de convidar ao mundo a se religar com seus sentimentos e temer menos suas próprias contradições. Mas como o único mundo que alcanço é o meu, me contentarei com a continuidade deste meu desafiador exercício de desmascarar a mim mesma e assim ir desfazendo minhas amarras.
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
Projeto de Eu
Não aceito mais essa sua violência! Essa sua ideia de proteção que parte do principio de um mundo violento onde ter força física ou um código de conduta masculino são os únicos atributos que de fato são capazes de proteger.
Não aceito mais essa sua arrogância intelectual que te faz me crer inocente, ou boba quando a compaixão está na base do meu raciocino, quando argumento contra sua estratégia egocêntrica de tirar vantagem para os seus iguais e para você com discursos distorcidos e reforçados pela lógica de competição.
Não mais baixarei meus olhos ao ver teu olhar de ódio ou desaprovação diante de meu posicionamento contrário ao seu. Não cederei por medo de uma possível punição ou mesmo simples medo de perder o seu amor, por te desagradar. Se seu amor for tão infantil que não consiga lidar com nossas diferenças, meu amor próprio terá de aprender a ser mais maduro e bancar romper com algumas relações em minha trajetória de vida.
Não mais te considerarei o centro da minha vida, abrindo mão de sair com minhas amigas, vestir as roupas que inclusive você admira em outras mulheres. Não vou abrir mão do estudo e do desenvolvimento profissional com medo de te perder caso eu seja "mais" ou tenha "mais", como sua lógica de competição geralmente o faz ler.
Por favor, tente entender o que estou dizendo aqui. São tantos nãos em minhas frases porque ainda estou aprendendo a compô-las; ainda estou aprendendo a ser isso que agora é projeto.
Não me entenda errado. Não ache que ao não mais baixar os olhos, vou agir como você e o encarar com raiva, não ache que tão pouco vou fazer do sucesso financeiro e profissional uma obrigação e algo que esteja no centro da minha sensação de satisfação pessoal.
Ao contrário. Eu quero o equilíbrio que toda essa divisão entre feminino e masculino me impediu de viver até hoje. Eu quero uma conexão com a terra, com o útero, com a criação e com o divino ao mesmo tempo que também quero a conexão com tigre e com a águia.
Não aceito mais essa sua arrogância intelectual que te faz me crer inocente, ou boba quando a compaixão está na base do meu raciocino, quando argumento contra sua estratégia egocêntrica de tirar vantagem para os seus iguais e para você com discursos distorcidos e reforçados pela lógica de competição.
Não mais baixarei meus olhos ao ver teu olhar de ódio ou desaprovação diante de meu posicionamento contrário ao seu. Não cederei por medo de uma possível punição ou mesmo simples medo de perder o seu amor, por te desagradar. Se seu amor for tão infantil que não consiga lidar com nossas diferenças, meu amor próprio terá de aprender a ser mais maduro e bancar romper com algumas relações em minha trajetória de vida.
Não mais te considerarei o centro da minha vida, abrindo mão de sair com minhas amigas, vestir as roupas que inclusive você admira em outras mulheres. Não vou abrir mão do estudo e do desenvolvimento profissional com medo de te perder caso eu seja "mais" ou tenha "mais", como sua lógica de competição geralmente o faz ler.
Por favor, tente entender o que estou dizendo aqui. São tantos nãos em minhas frases porque ainda estou aprendendo a compô-las; ainda estou aprendendo a ser isso que agora é projeto.
Não me entenda errado. Não ache que ao não mais baixar os olhos, vou agir como você e o encarar com raiva, não ache que tão pouco vou fazer do sucesso financeiro e profissional uma obrigação e algo que esteja no centro da minha sensação de satisfação pessoal.
Ao contrário. Eu quero o equilíbrio que toda essa divisão entre feminino e masculino me impediu de viver até hoje. Eu quero uma conexão com a terra, com o útero, com a criação e com o divino ao mesmo tempo que também quero a conexão com tigre e com a águia.
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