O inédito se dá em minha vida!
A espontaneidade das palavras me caírem para fora da boca, e eu tentando colher de volta os pedaços espalham pelo cômodo.
Há muitos e muitos anos atrás as palavras poéticas eram para mim instrumento apenas para falar das belas histórias de amor que eu assistia acontecer ao meu redor, enquanto eu, oca, esvaziada da possibilidade de amar.
Há alguns anos sua função se modificou e tornou-se instrumento trovadoresco em busca da dama que jamais me dedicaria amor real, amor concreto. Assim sendo todos os meus escritos se focavam na lamentação da dificuldade do amor improvável.
E o inédito acontece!
Estou eu. Agora. buscando usar as palavras para me construir.
Inédita a espontaneidade que me assusta!
Inédita a possibilidade de me escolher no mundo.
Sempre me vi cobrada a fazer escolhas profissionais, no sentido de fazer apostas mais audaciosas e melhores investimentos nesta área de minha vida, afinal de contas eu sempre tive tanto potencial.
Mas como pode alguém que ainda não sabe quem é conseguir fazer qualquer escolha desta ordem?
Eu estão caminhei a vida toda em busca de amor e aceitação. Apenas teria condições de existir no mundo se fosse amada e aceita como sou.
Eis que encontrei uma amostra desse amor! E foi só então, só quando encontrei a garantia de ser amada como sou, não apenas nela, mas em quem fui me construindo a partir da nossa história que percebi que não sei quem sou!
Passei a vida tentando me concertar. Tentando me fazer aceitar melhor o feminino que existe em mim, e usufruir de toda a possibilidade que o feminino me trás. Passei a vida negando um desejo emudecido de vestir como homem, e ser vista como homem.
Passei a vida e a vida passou. Com quase trinta anos finalmente construo coragem pra fazer a pergunta que quer calar: "será que sou trans?!"
Um mundo de possibilidades e insegurança se abrem!
Eu andava afirmando a mais de 5 anos justamente o oposto daquilo que agora desconfio.
Paralisia facial do lado esquerdo do rosto, as pesquisas me dizia que era questão com uma paralisação do masculino. Mas uma arrogância intelectual me dizia que aqueles escritos estavam errados e que apesar de o corpo seguir a lógica de o esquerdo ser masculino e o direito feminino, o rosto era algum outro simbolo. Somente hoje consigo conceber a possibilidade de sim, ter paralisado o masculino em mim.
Quando depois de ter contado a meus pais sobre minha mais recente descoberta de orientação homossexual, vi qualquer possibilidade de masculinidade assombrada pelas palavras "Pelo amor de Deus, quer ficar com menina fica, eu não tenho nada a ver com quem você come ou deixa de comer, mas não vai achar que é homem e começar a se vestir de homem por aí!"
Ser "lésbica" tinha sido aceito e eu deveria ser grata por isso, e fui. Acreditei piamente que ser aceita como uma mulher que gosta de outra mulher seria o suficiente para eu ser feliz. Mas ... Aqui estou eu, ainda em crise de identidade, ainda sem conseguir me sentir pertencente a nada, ainda sem lugar no mundo.
Mas finalmente dando voz a tudo que antes foi calado!
Caminharei por este caminho por sentir que é o certo, e caso não seja, continuarei caminhando por quantos caminhos errados forem preciso para finalmente chegar ao caminho certo.
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