quarta-feira, 24 de maio de 2017

Um de meus dias Ruins

 Finalmente encontro com meu monstro:
A ideia de inconsciente

 Me assombra a anos, e foi se deslocando e se renomeando ao longo dos tempos. Sinto que em algum ponto da minha trajetória chamou-se Deus, junto a ideia de que era o grande punidor divino. Após algum tempo parece ter se chamado lei do carma, que era colhida e produzida a todo momento, absolutamente todo momento, e eis que depois de alguns anos em companhia da academia passou a ser nomeada por mim mesma de inconsciente.
 Maldita ideia! Maldita prisão.

 Não há um momento se quer que eu passe sem me questionar sobre o quão inútil minha existência é, e sobre como eu sou pouco merecedora de qualquer coisa na medida que nada faço. Acordo num dia ensolarado e nem uma bendita meditação consigo produz. Apenas produzo café e alimentação. Mais café que alimentação.
 Sou capaz de passar todo um dia sem nada fazer da minha existência, e apenas fazer algo motivada pela tentativa de esquiva da decepção do outro.

Lido muito mal com decepções. A vida toda! Sinto que não sei decepcionar, nem ao outro nem a mim mesma.
 E por tanto meu inconsciente o tempo todo me julga, estou a todo momento vivendo na possibilidade de fracasso que o futuro me reserva, porque de algum modo a historia dos meus pais me reserva esse futuro.

 Sou uma otimista rasa, que ao dar alguns passos adiante se afunda num mar de pessimismo. Me sinto proibida de seguir em frente e amaldiçoada por meu ancestrais. Penso em desistir todos os dias, e todos os dias desisto.

 Quando vêem potencial em mim e me dizem isso, algumas coisas eu até reconheço. Reconheço potencial em mim, mas de que adianta ter condição pulmonar para ser uma triatleta se não se tem as pernas e nem o desejo de se matar de treinar para me tornar uma???

 Em dias ruins, sinto como se a vida fosse um emaranhado sem sentido, um grande seriado de temporadas infinitas que alguma hora se tornará finito e eu ficarei frustrada por não ter tido conclusão alguma. Em dias ruins a vida parece apenas uma ferida em aberto.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Finalmente!

O inédito se dá em minha vida!
A espontaneidade das palavras me caírem para fora da boca, e eu tentando colher de volta os pedaços espalham pelo cômodo.
 Há muitos e muitos anos atrás as palavras poéticas eram para mim instrumento apenas para falar das belas histórias de amor que eu assistia acontecer ao meu redor, enquanto eu, oca, esvaziada da possibilidade de amar.
Há alguns anos sua função se modificou e tornou-se instrumento trovadoresco em busca da dama que jamais me dedicaria amor real, amor concreto. Assim sendo todos os meus escritos se focavam na lamentação da dificuldade do amor improvável.
 E o inédito acontece!
Estou eu. Agora. buscando usar as palavras para me construir.
 Inédita a espontaneidade que me assusta!
 Inédita a possibilidade de me escolher no mundo.

 Sempre me vi cobrada a fazer escolhas profissionais, no sentido de fazer apostas mais audaciosas e melhores investimentos nesta área de minha vida, afinal de contas eu sempre tive tanto potencial.
 Mas como pode alguém que ainda não sabe quem é conseguir fazer qualquer escolha desta ordem?
Eu estão caminhei a vida toda em busca de amor e aceitação. Apenas teria condições de existir no mundo se fosse amada e aceita como sou.
 Eis que encontrei uma amostra desse amor! E foi só então, só quando encontrei a garantia de ser amada como sou, não apenas nela, mas em quem fui me construindo a partir da nossa história que percebi que não sei quem sou!

 Passei a vida tentando me concertar. Tentando me fazer aceitar melhor o feminino que existe em mim, e usufruir de toda a possibilidade que o feminino me trás. Passei a vida negando um desejo emudecido de vestir como homem, e ser vista como homem.
 Passei a vida e a vida passou. Com quase trinta anos finalmente construo coragem pra fazer a pergunta que quer calar: "será que sou trans?!"

 Um mundo de possibilidades e insegurança se abrem!
Eu andava afirmando a mais de 5 anos justamente o oposto daquilo que agora desconfio.
Paralisia facial do lado esquerdo do rosto, as pesquisas me dizia que era questão com uma paralisação do masculino. Mas uma arrogância intelectual me dizia que aqueles escritos estavam errados e que apesar de o corpo seguir a lógica de o esquerdo ser masculino e o direito feminino, o rosto era algum outro simbolo. Somente hoje consigo conceber a possibilidade de sim, ter paralisado o masculino em mim.

 Quando depois de ter contado a meus pais sobre minha mais recente descoberta de orientação homossexual, vi qualquer possibilidade de masculinidade assombrada pelas palavras "Pelo amor de Deus, quer ficar com menina fica, eu não tenho nada a ver com quem você come ou deixa de comer, mas não vai achar que é homem e começar a se vestir de homem por aí!"

 Ser "lésbica" tinha sido aceito e eu deveria ser grata por isso, e fui. Acreditei piamente que ser aceita como uma mulher que gosta de outra mulher seria o suficiente para eu ser feliz. Mas ... Aqui estou eu, ainda em crise de identidade, ainda sem conseguir me sentir pertencente a nada, ainda sem lugar no mundo.

Mas finalmente dando voz a tudo que antes foi calado!

Caminharei por este caminho por sentir que é o certo, e caso não seja, continuarei caminhando por quantos caminhos errados forem preciso para finalmente chegar ao caminho certo.