quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sobre Crianças e Objetos

 Em uma sala de um jardim de infância, crianças com menos de um ano e meio preferem objetos à pessoas... Se relacionam com seus objetos favoritos afetivamente, os controlam e buscam por conforto, prazer físico e até mesmo segurança naqueles objetos.
 Naquela mesma sala crianças um pouco mais velhas, próximas dos três anos de idade brincam entre si, alterando de maneira muito pessoal a variação de escolha entre estar com o outro e estar com o objeto, vezes inclusive mostrando clara confusão entre outro e objeto, como por exemplo tentando controlar o outro, como se fosse um objeto, ou esperando respostas autônomas do objeto como se fosse um outro.
 Numa outra sala crianças um pouco mais velhas, já com quarto anos e meio, já não esperam mais as respostas dos objetos (apesar de as fantasiarem quando parecem necessitar elaborar algo que vivenciaram com o outro e gostariam de que este outro tivesse tido outra resposta), mas ainda buscam incessantemente controlar o outro, e é neste momento que os exemplos de adultos de próxima convivência passam a ser fundamentais nos comportamentos destas crianças, pois seus repertórios de tentativa de controle do outro parecem repetir sofisticadamente o repertorio do adulto para com o controle da criança e dos pares ao redor dele mesmo. Alguns repertórios envolvendo propostas de benefícios que outro terá caso faça o que ele quer, outros repertórios incluindo agressão física ou verbal e psicológica, etc. Algumas crianças inclusive, simplesmente mudam o foco e buscam objetos mais fáceis de se controlar.
 Uma primeira pergunta pertinente surge: Se todas as crianças estão controlando outras, como que todas brincam juntas parecendo que apenas algumas, com características de maior liderança, parecem dominar/ controlar mais?
 A nossa visão para mecanismos grupais são muito presas em dualidades e na maioria das vezes não admitem a multiplicidade existente nas multirelações estabelecidas. Todas as crianças controlam o ambiente, cada uma no papel que a cabe. Se a criança que sempre propõe as brincadeiras (considerada líder) propõe brincadeiras que o grupo não acata, ela perde esse posto, por outro lado, se o pequeno não acata a brincadeira proposta ele pode perder a chance de brincar com o outro, nesta dinâmica ambos controlam a dinâmica, ambos controlam o outro, num fluxo impossível de se prever.
 Mas a grande questão que fica é: Se as crianças são capazes de superar a relação objetal, se são capazes de superar a necessidade por controle do objeto, porque elas tem tanta dificuldade de superar a necessidade por controle do outro??? Sujeitos neuróticos só podem ensinar neurose??

 E Freud já afirmou que quando João fala de Pedro, ele diz mais de João do que de Pedro.

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