Nos acostumamos a falar apenas das flores e dedicar aos espinhos apenas o alerta. Nos acostumamos a falar do sol, raramente mencionando a sombra. Nos acostumamos a falar de fora e não de nós.
Ah... Tanta coisa boa para se falar, então porque falar da escuridão, da sombra, daquilo desagrada, desapaixona, desencanta? Principalmente se tudo isso for seu, for meu...
Engulo o medo que tenho de desencantar, desapaixonar. Engulo o receio de mostrar-me frágil, e mais uma vez falo de mim, mas na necessidade de expressar o que me deprime, me desencoraja, me amedronta e me envergonha em mim mesma.
Estou sempre atrasada. Sinto como se estivesse correndo atrás da vida desde os meus 15 anos de existência. Sinto meus músculos fortalecidos, mas não adianta. É como se eu acreditasse que agora corro apenas para não morrer e não mais para chegar em algum lugar, ou nem mesmo para acompanhar. Minhas pernas são fortes, mas apenas sobrevivem.
Tenho dificuldades com coisas simples, que a maioria das pessoas ao meu redor parecem fazer com certa simplicidade, porém são pra mim, confusas, não óbvias... Me sinto emburrecida numa vida repleta de burrices.
Sinto potência em mim, mas não tenho a menor ideia de fazê-la existir. Eu vejo a semente, mas não sei como regá-la. Tenho uma constante vontade de desistir... desistir de tudo, do mundo, de mim. Penso de mais, não faço muito, se faço muito comumente de maneira insuficiente.
Ando, continuo andando, mas ando tão cansada de viver essa adolescência tardia, repleta de revoltas internas e com o mundo, nessa briga por individualização, que ainda se pauta nos rostos alheios para tentar encontrar o seu próprio....
Algumas pessoas me olham e me admiram, acham que sou boa em algo, acham que sou uma pessoa determinada, forte. Quanta ilusão. Eu apenas as amo. Apenas. E por amá-las digo a elas de suas forças quando elas parecem perdidas, as abraço sempre com amor e carinho sincero e tento sempre as ouvir com cuidado, para saber devolver a elas suas próprias.
Muitas vezes, e acho que desde muito criança, desejei que o amor fosse suficiente para se viver. Na minha inocência infantil amava as plantinhas, os animaizinhos, as pessoas e me perguntava por que os policiais e os bandidos matavam, se não fazia sentido nenhum. Cresci, vi maldade no mundo, mas ainda não compreendo o desamor. Só que ainda não sei ser forte em mim, não sei ir e realizar a vida, apenas sei ser com o outro....
Claro, realizei coisas importantes em minha vida, a minha escuridão não se mostra externamente, ela mora aqui dentro, no meu saber sobre mim mesma, na minha tristeza, na minha impotência. Invejo, muito sinceramente, as pessoas que sabem que são boas em algo que se dá dinheiro e garante sua sobrevivência nessa vida concreta e material. Invejo também aqueles que se sabem bons e apenas. Mesmo os que sabem disso apenas num processo de negação, causam em mim certa inveja e admiração...
Termino esse texto, sem mesmo finalizá-lo, assim como se termina qualquer processo de catarse.
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