Passou a vida com o barco a deriva, sem vela, sem leme... As ondas o puxavam para Aqui e para Ali, e o Lá era sempre um ponto inalcançável no horizonte.
Nos últimos anos percebeu que na verdade tinha ancoras fincadas ao chão.
Chão de terreno arenoso, passou 26 explorando aquelas mesmas belas paisagens, que nem sempre mesmas, que nem sempre belas. ..... Com barco naquele pedaço de chão saboreou brisas encantadoras , crepúsculos e alvoradas que tiraram seu fôlego e construíram sentidos mais plenos em sua existência. ..... Viveu também tempestades épicas, nas quais duvidou se sua vida suportaria tamanha tormenta; assim como as secas, cujo a falta de água doce fez a água salgada confundir-se com potável.
Alí e Aqui, as voltas pelo mesmo arquipélago. Sobre sua existência, nuvens se formaram, desformaram, dissiparam, foram para Lá, onde não ousava ir. ...
Sua curiosidade fez nascer velas, mas assim que elas se puseram prontas para serem sopradas por bons ventos, se mostraram ainda imaturas de encarar a tempestade que elas mesmas fizeram nascer...
precisava de um leme e o conseguiu... mas sua pilotagem ainda era imatura, tentava chegar Lá com as ancoras ainda jogadas ao mar.
Como puxá-las? não havia força suficiente. Pensou muitas vezes em cortá-las, mas cautelosamente refutava a ideia destemperada, por julgar que em um outro lugar talvez fosse querer jogar as ancoras novamente ao mar.
Qual seria a saída??? Sim, não era possível sair só, precisaria de ajuda!
Desejou, e a ajuda aconteceu.
Agora à caminho do Lá, se despedindo do aqui que no momento da despedida furta a memória das tempestades e faz lembrar só das doces brisas de verão.
O que aguarda? Quais novas paisagens existem ao horizonte? será que existem rochedos que possam colocar o barco em risco de afundar? Como seguir em frente sem deixar o sol ressecar as velas? Como saber a hora de parar e a hora de seguir?
Esse mar anda calmo... calmo como quem celebra a passagem da paz. Mas dentro do barco, lá dentro está a esporádica tormenta, alimentada por medo, insegurança, e passados.
Cheguei a construir títulos que fizessem caber o discurso de mim, e agora chego ao ponto de necessitar livrar-me deles, transpor-los, transcendê-los.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Sobre Crianças e Objetos
Em uma sala de um jardim de infância, crianças com menos de um ano e meio preferem objetos à pessoas... Se relacionam com seus objetos favoritos afetivamente, os controlam e buscam por conforto, prazer físico e até mesmo segurança naqueles objetos.
Naquela mesma sala crianças um pouco mais velhas, próximas dos três anos de idade brincam entre si, alterando de maneira muito pessoal a variação de escolha entre estar com o outro e estar com o objeto, vezes inclusive mostrando clara confusão entre outro e objeto, como por exemplo tentando controlar o outro, como se fosse um objeto, ou esperando respostas autônomas do objeto como se fosse um outro.
Numa outra sala crianças um pouco mais velhas, já com quarto anos e meio, já não esperam mais as respostas dos objetos (apesar de as fantasiarem quando parecem necessitar elaborar algo que vivenciaram com o outro e gostariam de que este outro tivesse tido outra resposta), mas ainda buscam incessantemente controlar o outro, e é neste momento que os exemplos de adultos de próxima convivência passam a ser fundamentais nos comportamentos destas crianças, pois seus repertórios de tentativa de controle do outro parecem repetir sofisticadamente o repertorio do adulto para com o controle da criança e dos pares ao redor dele mesmo. Alguns repertórios envolvendo propostas de benefícios que outro terá caso faça o que ele quer, outros repertórios incluindo agressão física ou verbal e psicológica, etc. Algumas crianças inclusive, simplesmente mudam o foco e buscam objetos mais fáceis de se controlar.
Uma primeira pergunta pertinente surge: Se todas as crianças estão controlando outras, como que todas brincam juntas parecendo que apenas algumas, com características de maior liderança, parecem dominar/ controlar mais?
A nossa visão para mecanismos grupais são muito presas em dualidades e na maioria das vezes não admitem a multiplicidade existente nas multirelações estabelecidas. Todas as crianças controlam o ambiente, cada uma no papel que a cabe. Se a criança que sempre propõe as brincadeiras (considerada líder) propõe brincadeiras que o grupo não acata, ela perde esse posto, por outro lado, se o pequeno não acata a brincadeira proposta ele pode perder a chance de brincar com o outro, nesta dinâmica ambos controlam a dinâmica, ambos controlam o outro, num fluxo impossível de se prever.
Mas a grande questão que fica é: Se as crianças são capazes de superar a relação objetal, se são capazes de superar a necessidade por controle do objeto, porque elas tem tanta dificuldade de superar a necessidade por controle do outro??? Sujeitos neuróticos só podem ensinar neurose??
E Freud já afirmou que quando João fala de Pedro, ele diz mais de João do que de Pedro.
Naquela mesma sala crianças um pouco mais velhas, próximas dos três anos de idade brincam entre si, alterando de maneira muito pessoal a variação de escolha entre estar com o outro e estar com o objeto, vezes inclusive mostrando clara confusão entre outro e objeto, como por exemplo tentando controlar o outro, como se fosse um objeto, ou esperando respostas autônomas do objeto como se fosse um outro.
Numa outra sala crianças um pouco mais velhas, já com quarto anos e meio, já não esperam mais as respostas dos objetos (apesar de as fantasiarem quando parecem necessitar elaborar algo que vivenciaram com o outro e gostariam de que este outro tivesse tido outra resposta), mas ainda buscam incessantemente controlar o outro, e é neste momento que os exemplos de adultos de próxima convivência passam a ser fundamentais nos comportamentos destas crianças, pois seus repertórios de tentativa de controle do outro parecem repetir sofisticadamente o repertorio do adulto para com o controle da criança e dos pares ao redor dele mesmo. Alguns repertórios envolvendo propostas de benefícios que outro terá caso faça o que ele quer, outros repertórios incluindo agressão física ou verbal e psicológica, etc. Algumas crianças inclusive, simplesmente mudam o foco e buscam objetos mais fáceis de se controlar.
Uma primeira pergunta pertinente surge: Se todas as crianças estão controlando outras, como que todas brincam juntas parecendo que apenas algumas, com características de maior liderança, parecem dominar/ controlar mais?
A nossa visão para mecanismos grupais são muito presas em dualidades e na maioria das vezes não admitem a multiplicidade existente nas multirelações estabelecidas. Todas as crianças controlam o ambiente, cada uma no papel que a cabe. Se a criança que sempre propõe as brincadeiras (considerada líder) propõe brincadeiras que o grupo não acata, ela perde esse posto, por outro lado, se o pequeno não acata a brincadeira proposta ele pode perder a chance de brincar com o outro, nesta dinâmica ambos controlam a dinâmica, ambos controlam o outro, num fluxo impossível de se prever.
Mas a grande questão que fica é: Se as crianças são capazes de superar a relação objetal, se são capazes de superar a necessidade por controle do objeto, porque elas tem tanta dificuldade de superar a necessidade por controle do outro??? Sujeitos neuróticos só podem ensinar neurose??
E Freud já afirmou que quando João fala de Pedro, ele diz mais de João do que de Pedro.
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